10 livros para ler
Eu não vou numerar os livros, nem dizer a ordem que você deve fazer a sua leitura, nem falar que se você não ler esses livros você não está entendendo nada. Non.
Mas o título é “10 livros para ler”. É. Pensei em 10 dicas, ou sugestões para você considerar, e achei que ficou meio estranho. Poderia ser 10 formas de ser mais feliz, ou de se chocar, ou de tomar consciência, ou de se emocionar, enfim… Pensem como quiserem, mas os livros são muito fodas.
Eu estou obcecada por essas leituras. Sempre li muito, tudo que me caia às mãos, desde muito, muito nova. Sempre li de um tudo.
Mas agora essa temática – mulheres, feminismo, nossa situação na sociedade, etc – tem me deixado aficionada. Por que faz muito sentido, porque a gente entende, porque não se sente tão sozinha… Então, por isso, estou trazendo algumas sugestões, para você que talvez não tenha tido tanto tempo, ou esteja curiosa (ou curioso), mas ainda não começou as leituras, enfim. Aqui tem 10 livros para ler, ou 10 dicas, ou sugestões, como queiram….
Teoria King Kong, de Virginie Despentes, pela n-1 edições
Foi uma indicação da Paula Bernardelli do Blog A Fala que me deixou de queixo caído.
É aquele tipo de livro que a gente não consegue parar de ler, e de repente percebe que parou de respirar. Eu ri, chorei e prendi a respiração várias vezes, em cerca de 120 páginas. Li em um dia e meio porque no meio do caminho tinha que, né, comer, dormir, trabalhar…
O livro é meio biográfico, porque a autora conta suas experiências, junto com observações que faz da sociedade em que vivemos. A crônica que dá nome ao livro é uma leitura diferente de tudo que você conhece do filme King Kong. Depois de ler, eu vi o filme de novo e chorei um bocado, pensando no tanto que fazia sentido.
E me fez lembrar de outro livro, que é o…
Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da Mulher Selvagem, de Clarissa Pinkola Estés, pela Rocco
Esse livro é uma terapia ambulante (ok, livro não sai por aí andando, mas não consegui pensar em outra forma de dizer isso, aposto que você entendeu). Eu, a propósito, vira e mexe levo um dos temas do livro para a minha terapia.
A primeira leitura pode fazer você pensar que é muito alternativo, ou como diriam minhas amadas amigas, muito ‘tilelê’. Sim e não.
A autora é uma contadora de histórias e psicóloga junguiana, então ela faz um levantamento desses contos, que passam por contos de fadas, histórias muito muito antigas e se repetem nas diversas sociedades, e a autora propõe uma leitura trazendo a experiência dela na clínica, além de uma leitura arquetípica, dos símbolos, das noções de inconsciente coletivo que essas histórias e esses contos tem para nos fazer compreender uma série de questões muito nossas, das mulheres, das nossas experiências.
Ela fala muito da mulher selvagem para dizer dessa mulher que está conectada com seus sentidos, com sua intuição, com uma percepção do mundo aguçada e mostra como, de um modo geral, pela nossa construção social, nós mulheres estamos em alguma medida dopadas pela própria realidade que nos oprime.
Assim, ela traz pelos contos uma narrativa fantástica e a analisa de forma muito profunda, e acredito que por isso mesmo, não é um livro para ler rápido, ou correndo. Ele mexe muito com a gente, de forma muito complexa, as vezes precisamos parar para respirar um pouco, fazer uma pausa, ler outro livro no meio do caminho, voltar para ele depois. E não precisa ler os contos na ordem também não. Eu fiz assim, sei lá, mas diz que não precisa.
A leitura do filme King Kong, de Virginie Despentes me pareceu muito com essa noção aqui, da mulher selvagem. E esse livro também me veio à mente quando eu lia outro, o…
A bruxa não vai para a fogueira nesse livro, de Amanda Lovelace, pela Editora Leya
Trata-se de um livro de poesias gente, absolutamente incrível, fenomenal, denso, completo, romântico, grave, enfim.
Esse eu li num rompante. Dá sede de ler, mais, mais e mais. E já descobri a autora, e o instagram dela, e tudo.
Nesse livro ela fala dos homens que encontram dificuldade em lidar com as mulheres em situação de igualdade e tentam a todo tempo subjuga-las, fala de violência, mas fala também do poder das mulheres, de autoestima e amor próprio de uma forma doce e realista, isso sem acabar nos colocando na dupla frustação de ter que estar satisfeita com a gente mesmo e eventualmente não estar…
Ela tem milhares de referências de outras leituras e fiquei muito chocada com a poesia que fala dos sapatinhos vermelhos – temos o conto do sapato vermelho em “Mulheres que correm com os lobos”, e tem versões dessa história em que o sapato vermelho é de fogo, o que faz todo sentido. Nessa poesia maravilhosa (atenção pequeno spoiler) ela fala dos homens que nos querem ver dançar para eles até que nossos pés sangrem. Por favor, leiam!!!
Ainda sugiro que leiam essa poesia que está no segundo capitulo, na página 68, depois de ler o capítulo 8 de “Mulheres que correm com os lobos”, que conta a história dos sapatinhos vermelhos “A Preservação do Self: A identificação de armadilhas, arapucas e iscas envenenadas”. Claro que você pode fazer o que quiser, como quiser, isso é só uma dica (mas falando sério, leia assim, nessa ordem).
E por falar em arquétipos, bruxas e tilelelismo…
A Deusa Interior: um guia sobre os eternos mitos femininos que moldam nossas vidas, de Jennifer Barker Woolger e Roger J. Woolger, pela Editora Cultrix
É genial.
Primeiro, para quem curte um teste, tem lá. Mas não é qualquer teste, é bem grandão, e vai te ajudar a tentar a identificação com uma das deusas que o livro retrata – e os seus respectivos arquétipos: Atena, Ártemis, Afrodite, Hera, Perséfone e Deméter.
Mas não pensem que é uma bobagem, não. O livro também trata de experiências clínicas e sobre o estudo da psique feminina por meio das deusas. Uma coisa muito interessante é a leitura histórica de como a noção da deusa mãe como temos do deus pai, uno e completo, se fragmentou em diversas deusas, cada uma com características muito marcadas. Daí que os autores vão analisar essa fragmentação histórica da Deusa entre as deusas e analisar como, para as mulheres, a identificação com essas noções fragmentadas ou fragmentárias pode ser um dificultador, ou conter elementos de dor.
Achei muito interessante fazer o teste, tentar identificar um perfil – você meio que escalona as deusas com as quais você mais se identifica e as que menos se parecem para, de alguma forma, refletir qual fragmento, ou qual estereótipo talvez precise ser melhor elaborado, conhecido, explorado – ou não.
Eu acho bacana ler, na Parte um, primeiro “A Roda das Deusas: panorama”, depois fazer o teste, e só depois ler os tópicos detalhados sobre as deusas. Eu li na sequência e achei que a gente acaba direcionando as respostas… Mas, claro, você lê como quiser (acredita em mim, minha sugestão é sucesso).
E se você está cansada e quer rir um pouco – ou muito…
Qual o problema das mulheres?, de Jacky Fleming, pela L&PM
É o melhor que você verá. É um livro de cartuns, que você vai devorar em poucas horas, ou minutos, e vai querer reler, e mostrar para as amigas todas. Esse livro traz de forma muito bem-humorada e cheia de sarcasmo propostas para a questão de porque nas escolas aprendemos sobre tão poucas mulheres – elas não existiam? O que estavam fazendo? Cheia de informação, críticas e ótimas sacadas, você não pode perder essa.
Ultimamente falou-se muito sobre o seriado novo, baseado no livro…
O Conto da Aia, de Margaret Atwood, aqui pela editora Rocco
O seriado ainda não vi, mas o livro é um choque de realidade, apesar de ser uma ficção.
Em determinado trecho a autora diz que
“Nada muda instantaneamente. Você seria fervido numa banheira de aquecimento gradual antes que percebesse.”
Como pode ser ficção issaê gente? Sério. Leiam.
Não vou dar spoiler, mas confesso que nos vi ali em muitos e muitos pontos e tive um medinho real. Pensa bem que quanto mais gente ler e começar a pensar a respeito, acho que mais chance nós temos de não cair numa situação como a do livro.
E daí para quem está querendo entender um pouco mais sobre o tema, está começando, eu sugiro o novo livro…
Feminismo em Comum: Para Todas, todes e todos, da Márcia Tiburi, pela Editora Rosa dos Tempos.
É um livro curtinho, de cerca de 120 páginas, pequeno e leve que você pode levar na bolsa e ler rapidinho.
Ele é muito objetivo, começa com uma apresentação da história da autora, para trazer para a realidade do dia a dia a situação do ser mulher, ou do tornar-se mulher, considerando a tomada de consciência do que isso significa na nossa sociedade. Mesmo as mulheres que vivem em ambientes privilegiados e acreditam que nunca vivenciaram qualquer situação em que seu gênero foi um critério distintivo no sentido negativo pode se surpreender, ainda que seja para compreender que o mundo é um pouquinho maior que o círculo que passa pela sua cintura e tem início e fim no seu umbigo.
Mas ela não é agressiva, ela é bem delicada, clara, por que ela mostra como ela passou por essa tomada de consciência. E digo, pela minha experiência, que não é simples, ou fácil. As vezes é doloroso, mas como no filme Telma e Louise, não tem como voltar atrás (não viu o filme? Para tudo e vai ver. Real oficial. Veja.)
Ainda nessa linha…
Mulheres e Poder: Um manifesto, de Mary Beard, pela editora Crítica
É um livro que tem tudo a ver com o Blog e que me fez lembrar mil vezes da Roberta Maia Gresta.
É sobre fala, é sobre o discurso e a importância da linguagem e desse espaço que é negado às mulheres, e o pequeno espaço que as vezes nos é relegado – geralmente para falar sobre nós mesmas, para nós mesmas.
Eu adoro esse assunto, nós, mulheres na sociedade, mas não é somente sobre isso que queremos tratar. Queremos poder tratar sobre tudo, afinal, somos parte desse mundo, e estamos nessa história em construção junto com os homens.
Se não pudermos falar todas – não somente as boazinhas (que concordam com o espaço que lhes é reservado) mas todas, inclusive as que discordam, questionam, falam alto, contradizem, não aceitam ser descreditadas pelo que quer que seja – esse não será um mundo que nos cabe.
E, bom, nós estamos aqui, e vamos trabalhar na construção de um mundo que nos caiba a todas.
Esse livro é resultado das palestras proferidas por essa autora, que é uma grande especialista sobre a História de Roma, de forma que ela passa por textos antigos, quadros, pinturas, artes para fazer uma análise histórica da mulher nas sociedades ocidentais ao longo do tempo e a importância do discurso e da linguagem. Baita livro, também muito claro e conciso, leitura leve, com exemplos muito atuais sobre Dilma, Margaret Thatcher e Angela Merkel e resgatando a disputa eleitoral entre Trump e Hilary Clinton.
E nessa toada de mulheres no poder…
Campanhas Eleitorais para Mulheres: Desafios e Tendências, de Luciana Panke, da Editora UFPR
A professora Luciana Panke faz um trabalho primoroso de investigação, entrevistando quase 100 mulheres políticas, consultores e consultoras, e analisando 21 casos de campanhas presidenciais em 11 países, a maioria da América Latina.
A autora faz uma análise de perfis, ou modelos, ou arquétipos de candidaturas de mulheres, quantas vezes eles aparecem nessas campanhas e como a questão do gênero afeta no exercício do poder e, antes mesmo, nas disputas eleitorais. Trabalho investigativo profundo, leitura essencial para quem gosta e sobretudo para quem trabalha com a temática de mulheres no poder.
Por fim, uma obra coletiva…
Mulheres por Mulheres: Memórias do I Encontro de Pesquisa por/de/sobre Mulheres, organizado pelas professoras Eneida Desirre Salgado, Letícia Camargo Kreuz e Bárbara Mendonça Bertotti, pela Editora Fi.
O formato desse livro é diferente de todos os outros. Trata-se de uma coletânea de artigos científicos, que são resultados dos resumos expandidos aprovados e discutidos no I Encontro de Pesquisa por/de/sobre Mulheres, na UFPR.
O livro reúne artigos sobre representação política e eleições; políticas públicas para as mulheres; Direito Penal Feminino; constitucionalismo e literatura, além de resumos sobre diversos outros temas. Ele pode ser baixado gratuitamente na página da Editora Fi, e é uma excelente fonte de consulta de temas que não só dizem respeito às questões de gênero, mas que foram escritas por mulheres, debatidas, selecionadas, avaliadas e discutidas por pesquisadoras mulheres num encontro feminista.
Mulheres em construção acadêmica, para visibilizar temas e pautas feministas, além das próprias mulheres que pesquisam esses temas.
Tem mais livros. E filmes. Tem muita gente foda escrevendo, pensando e produzindo coisas incríveis sobre isso. Estamos de olho. Mas leiam esses, se quiserem (leiam, vocês não vão se arrepender!).
Advogada, professora, empreendedora, sobrevivente. Mulher em processo permanente de revisão.